Tuesday, August 30, 2011

Salve África

Com aquela curiosidade aventureira, a África sempre rodeou meu sonhos de destinos. Aquele enorme continente, repleto de animais... Mas o costume de generalizar a África não é justo. O continente tem 54 países, é o terceiro maior do mundo e sem dúvida, o mais pobre. Então conhecer realmente tudo aquilo, e suas diversidades é muito difícil, demanda um bom tempo. Sendo assim, escolhi focar a minha expedição nos safáris, ver o bichos, os “Big Five”da África.

A escolha do roteiro buscou isso e me deparei com dois paises principais de safári: Quênia e Tanzânia. Já tinha lido mais a respeito do Parque Nacional Masai Mara, no Quênia, mas o pessoal da agência de turismo foi enfática dizendo que o Parque do Serenguetti era muito maior que o Masai Mara, em terras adjacentes e com grande quantidade de animais. Os dois parques fazem fronteira, mas cada um está em um país.

Confiei na agência e decidimos explorar os parques da Tanzânia. Foi uma decisão certeira! No Quênia, visitamos Naiorobi, que é uma capital nada charmosa com um trânsito caótico. Nos arredores de Nairobi visitamos o orfanato dos elefantes, que é uma gracinha, com filhotes abandonados sendo cuidados muito bem por suas “babás”. É possível ver os elefantes tomando mamadeira, enquanto um guia conta a história de cada um: nome, onde foi encontrado, idade... O local onde eles dormem também fica exposto e tem uma cama onde o “babá” (porque são todos homens) dorme para poder cobrir o pequeno elefante com um cobertor a noite. Visitamos também o centro de girafas, com três lindas girafas em que se pode ver e alimentar bem de pertinho.

Seguimos para a Tanzânia de carro, no dia seguinte. Atravessar a fronteira é uma coisa meio bizarra, confusa, com muitos vendedores ambulantes, estrangeiros, filas desordenadas. E se paga para obter o visto, sempre.

A primeira parada na Tanzânia, foi em Arusha, cidade de apoio para todos os Parques Nacionais. Uma cidadezinha simpática, bem arborizada, com vários resorts e restaurantes e uma boa parte da população é muçulmana, além de se poder avistar alguns Masais.

Os Masais são uma comunidade de ex-nômades, que foi descendo ao longo do Rio Nilo, durante os últimos séculos e hoje habita o Quênia e a Tanzânia. Eles têm autorização para viver em alguns Parques Nacionais, e matêm sua cultura bem preservada. Moram em pequenas aldeias, cada uma comporta uma família, mas os Masais são poligâmicos, então as famílias são bem numerosas.

Passando Arusha, já nos dirigimos ao primeiro Parque Nacional que íamos visitar, o Lake Manyara, que como no próprio nome já diz, possui um enorme lago. É um parque com vegetação mais densa, o que dificulta a visibilidade dos bichos, porém proporciona uma bela paisagem, compõem um cenário de selva. Vimos muitos macacos, alguns elefantes, zebras, girafas e veados. Os hipopótamos só pudemos avistar em um poço, bem longe. Foi uma exploração curta, apenas pela manhã, a tarde pegamos a estrada rumo ao Serenguetti.

A estrada principal era de asfalto, mas logo que entramos em território de parques nacionais já enfrentamos estrada de terra, com muita pedra e pó, o que se tornou “habituê” dos próximos dias.

No final da tarde, já próximos ao nosso lodge, avistamos um cheetah subindo em um morrinho e um belíssimo pôr-do-sol saudando a temporada de safári na África.

Lá eles chamam o safári de “drive game”, que consiste em ficar percorrendo o parque nacional de carro, em busca dos animais. Não é permitido descer do carro, só em áreas delimitadas para isso, onde geralmente há banheiros e mesas de piquenique. Os guias, que são também os motoristas, tem rádio e passam se comunicando para saberem por onde estão os bichos.

Quando algum animal dos mais “difíceis”de ver é encontrado, é normal ficar um montão de carros juntos, todos observando. Ficamos assim em um grande grupo para ver um leopardo, que de início ninguém do nosso carro tinha visto, ele estava deitado no mato e se camufla muito bem no gramado seco. Ficamos cerca de meia hora esperando e não é que o bicho se movimentou e subiu na árvore, bem na nossa frente, cena linda. Recompensa, quando todos ficam olhando hipnotizados em suas câmeras fotográficas ou em seus binóculos.

A paisagem no Parque Nacional do Serenguetti é o melhor exemplo de savana, em sua maioria os campos são cobertos de uma graminha fina e alta, com árvores espaçadas e alguns agrupamentos de vegetação envolvendo pedras, chamados de simbas. Fomos na estação de seca, quanto essa grama fica amarela. Nesse parque é possível fazer passeio de balão ao nascer do sol, e ter uma ideia melhor da imensidão do parque diretamente do céu... É um passeio mais para observar a paisagem mesmo, já que lá de cima os bichos ficam muito pequeninos. O legal é que o balão sobe ao nascer do sol, então o fenômeno natural sempre brinda com cores incríveis.

Passamos três noites no Serenguetti e avistamos todos os principais animais, exceto o rinoceronte, que o nosso guia garantia ser mais fácil de ver em Nhogorogoro, o último parque de nossa viagem.

Na estrada para Nhogorogoro se vê muitos masais, porque é o parque onde eles têm autorização do governo para viver. Visitamos uma aldeia, um passeio que já se tornou atração turística! Os masais cobram de U$ 20 a 25 por pessoa para visitar a aldeia. Te recebem dançando e cantando uma musica típica de boas vindas, onde tanto os homens como as mulheres pulam bem alto, símbolo de força para eles. Depois algum membro da vila, que fale inglês, vai contando um pouco dos costumes deles e responde a todas as perguntas, impressionante como é bem organizado, nesse momento você fica sentado escutando dentro da casinha de alguma mulher. A última visita é na escola, e todas as crianças contam os números em inglês e swahili.

É uma cultura interessante, um povo auto-sustentável e com costumes arraigados. A bebida sagrada deles é sangue de gado com leite. Quando os meninos entram na adolescência eles são circuncisados e vivem por um tempo isolados, em um grupo de meninos com um mentor. Pintam a cara de branco e passam aprendendo algumas lições, entra elas, era tradição caçar um leão, caça que o governo proibiu. Quanto voltam a comunidade, estão prontos para casar. Podem se casar com quantas mulheres quiserem e elas vão construindo suas casinhas em circulo, por ordem de casamento, assim formam-se os vilarejos.

Chegamos no hotel de Nhogorongoro no final de tarde. Lá faz mais frio, porque os hotéis e pousadas não ficam na cratera do parque, estão todos na borda, uma região alta. O pôr-do-sol foi incrível, uma bola de fogo vermelha, entre as nuvens e as fendas de terra da cratera.

No dia seguinte, cedinho, já começamos a descer para o fundo da cratera, paisagem linda, totalmente diferente das outras... Na descida ainda tinha uma vegetação mais verdinha, com muitas arvores. No buraco, os campos estavam mais secos, era uma mistura grande de azul e amarelo, o céu e a grama. Já começamos encontrando vários leões, na verdade, como sempre, principalmente leoas, é bem mais difícil ver o macho... Todos dormindo, bem próximo da estrada, delícia, eu me apaixonei pelo leões. Ficamos um tempo vendo eles, até todos do carro perderem a paciência comigo e continuarmos a busca por novos bichos.

A nossa volta tinham inúmeras zebras e ignous, também avistamos um javali e um gato selvagem. De repente, comunicaram no rádio, para o guia, que o rinoceronte estava aparecendo bem próximo a estrada, seguimos para o local. Lá já estavam uns 20 carros parados em fila dupla, entramos no meio para observar o grande rino negro. Um animal enorme, de força suprema e pouco convívio social.

Passeamos também para ver a paisagem dos dois lagos que existem na cratera, um doce e outro salgado. Nhogorongoro é um local de água em abundancia, por isso reuni muitos animais, me parecia muito uma grande Arca de Noé.